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  • Corinne Bailey Rae em entrevista ao Metro

    Horas antes de subir ao palco, Corinne Bailey Rae confessou ao METRO que adora tocar ao ar livre. Esperava-a um jardim fantástico – o Parque Marechal Carmona, Cascais –, um ambiente tranquilo, uma noite de Verão e uma lua cheia memorável. “The Sea” é o mais recente álbum da cantora britânica, que passou este sábado pelo Cool Jazz Fest. Depois de uma pausa no trabalho, após a morte do marido, há dois anos, Corinne regressa mais madura e experiente. Recuperou os temas que já tinha começado e pôs de pé um álbum em que a variedade de estilos é palavra de ordem.

     

    Créditos: Fernando Mendes

    O que espera para o concerto desta noite?

    Acho que vai ser um concerto muito simpático. Adoro tocar ao ar livre e adoro festivais de jazz. Há algumas influências de jazz no meu álbum, também há canções mais agressivas e talvez mais pop e rock. Há uma grande variedade de estilos e espero que o público goste.

     

    Quais as principais diferenças entre este álbum e o primeiro, lançado em 2006?

    Este álbum tem muitos estilos. Muitas canções de amor, mas também sobre política, espiritualidade, experiências pessoais, coisas que vivi. É um álbum mais vivo, mais caótico, com mais dramas da vida, mais experimental que o primeiro álbum.

     

    Tem uma música favorita neste álbum?

    Tenho muitas favoritas. Na verdade acho que todas o são. Quando as escrevemos estamos sempre a voltar a elas para as acabar, seja no refrão, nos versos… Adoro o “Closer”, é muito intimista, é sobre não gostar de alguém para não se sentir responsável por essa pessoa. Gosto muito do “The Blackest Lily”, “Diving for hearts”. Adoro a melodia do “I would like to call it beauty”. É uma excelente canção. Podia continuar por aqui fora, porque sim… gosto de todas.

     

    Por que escolheu a “The sea” como nome para o álbum, então?

    Achei que era uma boa metáfora para todas as experiências que nos ultrapassam e que são tão poderosas que nos levam a algum lugar. O mar é um fenómeno natural fantástico, é de onde vem a vida, e pode suster-te, mas também te pode destruir. É algo que é maravilhoso mas que ao mesmo tempo é algo que nos aterroriza. Por isso achei que era uma boa forma de olhar para o amor, para a perda, e para a espiritualidade. Era uma boa imagem para essas três coisas.

     

    Essa música é sobre o seu avô, certo?

    Sim, ele teve um acidente e morreu no mar. E os filhos deles estavam lá e viram tudo acontecer à sua frente. É um tema que mostra que as coisas nos acontecem, e não as conseguimos arrancar de nós. E elas têm, de facto, um grande impacto em nós, e não conseguimos fugir. Elas vão estar sempre lá. E escrevi esse tema antes da minha própria experiência de perda. Por isso era algo em que eu já pensava.

     

    “Are you here” é o tema que dedica ao seu marido. A morte dele mudou-a? É uma mulher diferente agora?

    Não me sinto mudada. Sinto que foi importante voltar a trabalhar no álbum. Já tinha escrito seis ou sete músicas e fui ouvi-las e fiquei aliviada porque percebi que era a mesma pessoa que as tinha escrito. Acho que somos um pouco um produto das experiências que temos, sinto que tive uma experiência que nunca tinha vivido. Sinto-me mais experiente, mas ainda me sinto a mesma pessoa. Aliás… Sinto-me é velha (risos)

     

    Não está nada velha! Sei que percebeu há pouco tempo que as palavras não são suficientes expressar tudo o que sente. Porque acha isso?

    Há muitas coisas que queremos comunicar e as palavras parece que não são fortes o suficiente. E é por isso que a música é fantástica. Podes cantar uma nota e isso pode mudar completamente uma palavra. Podes esticar a nota, e andar em tons diferentes. E podes repetir as mesmas palavras com diferentes acordes, ou instrumentos. A música traz novos significados. Por isso, a música é excelente para trazer diferentes sentidos às palavras.

     

    Em criança tocou violino e na altura não se conseguia imaginar como cantora. Quando  percebeu que sabia cantar?

    Eu adorava tocar na minha banda, na altura tinha 15 anos. E começámos a dar concertos mais à seria um ano depois. Acho que foi quando me começaram a dizer que sim, que eu cantava bem. Quer dizer, recebemos sempre elogios da família, dos amigos, dos pais dos amigos. E pensava que só o diziam para ser simpáticos. Foi mais ou menos por ouvir as opiniões das outras pessoas e por sentir que podia escrever canções com coisas que pensava na altura. Mas foi uma autêntica revelação para mim.

     

    E o violino? Não voltou a tocar?

    Ainda o tenho, mas não é como andar de bicicleta, que nunca se esquece. Sinto que os meus dedos estão maiores e estão mais habituados à guitarra. Talvez volte a tocar um dia.

     

    E se não fosse cantora, o que seria hoje em dia?

    Ai, não sei… adorava fazer algo relacionado com arte, criatividade. Ai, mas não sei mesmo. Adoro a música… talvez fosse pintora, realizadora, escritora. Adoro a parte da criatividade e poder trabalhar com as mãos.

     

    Já tinha estado em Portugal…

    Sim, em Lisboa, julgo que em 2006. É muito bom voltar. É um país lindo. Adoro a mistura de culturas e adorava voltar em férias por exemplo.

     

    “Put your records on” é uma das suas músicas mais conhecidas. Se eu lhe pedisse para escolher alguns temas para por a tocar, quais seriam?

    Há uma música que gosto imenso que é “Fall in love”, da Erykah Badu. É uma canção que não é habitual. O refrão diz “não vais querer apaixonar te por mim”. É empurrar alguém, colocá-lo  de parte.  Depois há o“I only have yes for you”. Adoro essa música. Curtis Mayfield: “Love to the people”. Talvez um tema da Madonna, mesmo dos anos 80 e um reggae “Is this love”  do Bob Marley, é linda.

     

     

    DESAFIO METRO

    O que vem a seguir? What´s next Corinne?

    Próximo concerto: o que vou dar em Singapura, daqui a dois dias

    Próximo filme: Um da Sofia Coppola, adorei os últimos dela. “Maria Antoinette” e “Lost in translation”.

    Próxima viagem de férias: Leeds, em Setembro, é o regresso a casa. Não vou lá há 3 meses. Em Londres dizemos “staycation”.

    Próximo livro: “A long story”, de Adrian Levy

    Próximo álbum: “Wake up the nation” de Paul Weller

     

     



  • Entrevista com St. Vincent: Nossa Senhora de Brooklyn

     

     

     

    Há poucas semanas o Metro ligou para casa de Annie Clark, conhecida no mundo da música como St. Vincent, onde a apanhámos em férias. Férias de uma digressão bem longa, como nos explicou. Íamos ajudando a causar um acidente doméstico, mas acabou por correr tudo bem... A cantora e compositora toca esta sexta-feira, dia 16 de Julho, no festival Super Bock Super Rock, no Meco. Aqui fica a simpática conversa que Annie teve connosco.

     

    Annie, está em digressão, nesta altura?

    Agora não estou em digressão, estou de férias, acho eu. Ai... que nojo... Bem... Estava a tentar fazer um café com uma mão e falhei miseravelmente. Estou em casa e isso é estar de férias! Estou a fazer o novo álbum.

     

    Tem sido um ano longo de digressão?

    Sim, estive fora praticamente o ano todo. Parei em Abril, acho eu. Tive dois meses de férias.

     

    Então esta é a melhor altura para começar a preparar um disco.

    Sim, eu tenho de parar um pouco, porque estar na estrada deixa-nos extenuados. Vivemos o mesmo dia um ano inteiro seguido. Depois disso temos de tomar um banho gelado, de ler muitos livros e lembrar-nos de quem somos. Como que tornar-nos de novo a pessoa que éramos, quando a nossa vida parou. Então Tenho andado a ver filmes e a falar com pessoas.

     

    Mas está habituada a digressões, já desde pequenina. A Annie já tinha sido “tour manager” da banda do seu tio, quando era adolescente... é verdade?

    Sim, era uma espécie de roadie dos Tuck and Tight quando tinha 15 anos. Estou habituada à estrada e eles também faziam muitas viagens.

     

    Que memórias tem dessa altura?

    Lembro-me de ser mais cansativo. Lembro-me de estar três noites sem dormir, porque andávamos em digressão pela Europa. Lembro-me de adormecer no chão do aeroporto de Munique, talvez e quase perder o voo! Estranhamente, outra memória que tenho desse dia, é chegar ao avião, assim à última, e estar lá o Coolio. Lembras-te do Coolio?

     

    Sim, o rapper, do “Gangsta’s Paradise”

    Exactamente! Basicamente é o que me lembro!

     

    Deu-lhe muita experiência de estrada.

    Sem dúvida. Lembro-me também de um concerto no sul da Itália, numa praça, sem seguranças. Depois de a banda sair do palco, toda a gente começou a aproximar-se deles, de forma simpática, a pedir autógrafos e tal, mas tive de fazer de segurança! Eu, com 15 anos! Tive de usar da força para atravessarmos todos uma multidão e proteger a banda!

     

    Com aquilo que viveu e aquilo que tem vivido com a sua banda já podia quase escrever um livro.

    Olha, isso pode ser uma ideia para a minha reforma!

     

    Falando deste momento de se reencontrar consigo, aí em casa, nos últimos dois meses. Como tem sido? Tem feito muita música?

    Estou naquele ponto em que tenho apontado tudo o que me tem vindo à cabeça. Não estou a julgar nenhuma ideia, a refinar ou a deitar nada fora. O último disco que fiz chegou a um ponto em que senti muita pressão. Não no sentido que tinha de vender um milhão de discos, mas pressão comigo própria, por sentir que tinha de ser uma melhor compositora, mais sofisticada do que no passado. E parecia que o processo não era divertido. Mas agora não parece que não tem de ser tão agreste, tão complicado. Agora vou escrevendo tudo o que vem até mim. É mais divertido.

     

    Mas está a dizer que quando escreveu “Actor” não se divertiu?

    Tive algum divertimento, mas acho que estava mais concentrada a tentar provar algo a mim própria. Estava a ler um livro de Alex Ross, que é como a história da história da música orquestral moderna. E estava a ler aquilo, a ouvir exemplos, como bandas sonoras, a inspirar-me para aquilo que queria escrever e foi óptimo. Mas agora estou a ouvir coisas mais rítmicas. Por exemplo, estou a ouvir muito o Rhythm Nation, da Janet Jackson! É espectacular! Há essa mudança.

     

    E agora tem essa vantagem: já que é mais compositora, talvez já possa fazer aquilo que lhe apeteça.

    Acho que sim! Obrigada! E é isso mesmo que eu vou fazer: vou fazer o que me apetecer! E talvez outras pessoas também gostem.

     

    E já tem ideias de quando é que vai sair?

    Não tenho ainda, mas de certeza no próximo ano: Primavera, Verão, talvez. Mas tudo pode acontecer.

     

     

     

     

    Esta altura do ano, de festivais, para si também deve ser interessante, até porque deve encontrar e fazer muitos amigos no mundo da música.

    Sim, por exemplo, os The National, de quem sou uma grande fã e amiga. Vou abrir para eles em Munique. E posso dizer mesmo: “Bem, os meus amigos são muito talentosos!” Fala-se muito hoje em dia na imprensa da cena da música daqui de Brooklyn, mas eu acho que é verdade: por exemplo, os Grizzly Bear, The National, Dirty Projectors, Sufjan Stevens... Há uma espécie de companheirismo. Parece que estamos todos felizes por vermos que estamos todos a ser sucesso e ninguém está a fazer o mesmo, todos têm o seu território.

     

    Esse movimento de Brooklyn faz-me lembrar o movimento que havia em Seattle com o grunge, em 90, obviamente com outro som.

    Eu sempre idealizei o grunge por aquilo que ouvia quando tinha 9 anos – porque via muita MTV, ouvia Nirvana e Pearl Jam, mas nunca soube muito bem como é que era em Seattle naquela altura. Não faço ideia se era esta camaradagem e falta de pretensiosismo de chegar ao pé de um amigo e dizer: “Queres tocar no meu disco?”. Eu fiz isso com o Bon Iver e vou fazer agora com o David Byrne, que anda por aí por todo o lado, de bicicleta.

     

    E vai fazer o quê com ele?

    Fizemos uma composição orquestral para ser tocada no Lincoln Center, em Agosto. Mas além disso andamos a escrever umas canções juntos, por isso há-de sair qualquer coisa! Talvez um disco!

     

    Como vai ser o seu concerto aqui em Portugal?

    Eu nunca estive aí, mas era para ter ido de férias uma vez só que à última hora tive de cancelar. Este vai ser um concerto de três elementos em palco, por isso vai ser algo mais orquestral do disco.

     

    Já vai mostrar algo novo, ou ainda é difícil?

    Bem, vão ser versões novas das canções, mas não vai ser material novo.

     

    E também é curioso, porque ainda há pouco estávamos a falar deles: vai tocar no mesmo dia dos Grizzly Bear.

    Eles vão estar no festival?

     

    Sim, eles, os The National, The Temper Trap, Beach House!

    E os The National tocam no mesmo dia que eu?

     

    A Annie toca sexta-feira e os The National tocam no domingo.

    Ah, ok. Então nós vamos abrir para Grizzly Bear e Beach House! Ai meu Deus! Estou tão contente! Vai ser “fucking awsome”! Deves estar a gozar comigo!

     

    Não, a sério! E no domingo, se ficar cá, ainda vê The National, Empire of The Sun e o Prince.

    (silêncio) O quê?! Bem, este festival é o maior... Estou muito entusiasmada! Muito mesmo!

     



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